Esteve calor na semana passada. Mais de 35°C. Mesmo com a habitual brisa marítima, está calor. Agora que não há hóspedes, aproveitei para divertir-me com a máquina de alta pressão. Satisfatório em termos de efeito, mas um trabalho um pouco aborrecido.
Consegue pensar perfeitamente no trabalho em percurso
Da última vez que o fiz, não estava tão quente, e depois de algumas horas arrefece. Fica encharcado, sabe? Inevitável. Também inevitável é que os seus pensamentos vão em todas as direções. Ao fim de algum tempo, a meditação abranda um pouco, e uma linha de pensamento começa a tornar-se um pouco mais intrusiva.
“Quantas camadas de tinta existem?”, começa um pensamento, “se espalhar num ângulo, passar por baixo, vai ser mais rápido.” Passadas algumas horas, completei uma secção — faltam mais sete. Mais a parte de baixo, a parte de dentro para fora, a bancada, a parte da frente… pilares, oito deles. Com quatro cantos cada …. Apesar dos protetores de ouvido, a aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii da máquina está a ficar um pouco demais para mim. As minhas calças estão a colar-se às canelas e toda a praça da aldeia está coberta de flocos.

A graça acabou um pouco. Dá para pensar com facilidade sob pressão, e os meus pensamentos estão cada vez mais a ir na mesma direção. “Porque raio estou a fazer isto? Nunca ninguém senta-se aqui. Certamente nunca mais, agora que o teto foi tirado.”
Deu muito trabalho colocar este pavilhão em ordem.
Após 25 anos de abandono (em 2000, quando chegámos), a fonte tinha sido arrancada, o pavimento estava arruínado, o telhado de ferro estava meio podre e a tinta desapereceu quase por completo. Nós reconstruímo-lo, e depois ficou lindo. Também foi útil, porque nos sentávamos lá durante o almoço (bem à sombra), o jantar dos hóspedes era servido em estilo buffet, as crianças podiam brincar lá e, à noite, o lugar tornava-se acolhedor com guitarras e velas.







Passados alguns anos, o telhado teve de ser refeito, porque o ferro estava a enferruja e não parava. E passados mais alguns anos, teve de ser refeito, desta vez com Hammerite. E passados mais alguns anos, tudo teve de ser lixado, por dentro e por fora, e pintado, tal como as paredes, por dentro e por fora. Um voluntário com uma bela caligrafia pintou nele o meu poema favorito: “If” de Rudyard Kipling.
Quando estava lá em cima no telhado com a lixadora, pensei passados alguns dias: “Esta é a última vez que faço isto”. Demorou seis semanas e foi um trabalho horrível. Depois de alguns anos, infelizmente, teve de ser refeito, mas depois de pensar fora da caixa, costurei-lhe um bonito chapéu com tecido de sombreado. Assim, já não se viam as bolhas e a podridão.
O fenómeno da “entropia” não tem isso em conta. As moléculas enferrujadas incendeiam as outras, e assim o caos continua. A certa altura, já não era de todo responsável sentar-se em cima daquele telhado para o lixar completamente de novo, porque imagine se tivesse caído por ele.
Os fiéis leitores deste blogue sabem que os meus filhos arrancaram o telhado no início deste ano, porque era a única opção que restava.
Ali estávamos nós, com um pavilhão sem abrigo. O que fazer?
Bem, nada, porque começou a chover em Março (e em Fevereiro tínhamos outras coisas que fazer) e choveu até ao fim de Abril. Ótimo, obrigado, deuses do clima! Até agora, não houve oportunidade de fazer nada em relação àquele pavilhão, porque não está no topo da lista de prioridades, e ninguém vai estar a fazer o iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii e toda aquela água e aqueles flocos o dia todo enquanto há pessoas por perto.
Mas depois de um dia de iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii e tão pouco resultado, começo novamente a pensar fora da caixa. “Dom Henriques Foja de Oliveira teve uma vez a ideia de que aquela coisa tinha de ficar aqui”, penso eu, “mas isso não significa que esteja na lei que ela tenha de ficar lá para sempre. É bom tentar restaurar tudo à sua antiga glória, mas há limites, não é? (Pergunta retórica.) Isto significa pelo menos mais duas semanas de iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, depois alisando e endireitando, colocando azulejos, serrando azulejos no ângulo certo, juntando, pintando… no total, provavelmente mais seis semanas da minha vida.”
Vou até à cozinha, vejo o Broes ali sentado, tiro os chinelos molhados e pergunto: “O que achas de demolir este maldito pavilhão?”
Consegue adivinhar qual foi a resposta dele, caro leitor?
.
Nos mudámos em 2000 de Roterdão, Países Baixos, para Termas-da-Azenha, Portugal. Uma mudança significante, especialmente com duas crianças pequenas. Estamos ocupados para reconstruir uma das heranças culturais portuguesas: Termas-da-Azenha, um antigo spa que foi transformado em várias casas de férias, quartos de hóspedes e dois terrenos para acampar, com muitas coisas divertidas para fazer.
Sala de convívio com jogos como pingpong, matraquilhos e bilhar, e uma coisa única no mundo: o Camarim.
Vai encontrar mosaicos e pinturas em todos os lugares.
Inscreve-se para receber o nosso blogue todas as semanas- veja aí ao lado à direita »
Nos domingos publicamos o na nossa página do Bluesky, Facebook, Pinterest e Instagram.